José Ivaldo Barbosa Junior – Professor de Educação Física no projeto “Esporte que Transforma” em Maceió.
Antes de iniciarmos a aula, sempre fazemos uma rápida roda de conversa no centro da quadra, o objetivo é permitir a conversar das crianças, ouvir sugestões de atividades para desenvolvermos na aula, saber o que elas aprenderam na aula anterior, o que querem aprender, qual fundamento da modalidade eles têm mais dificuldade e etc. Dessa forma, as aulas passam a ser mais atrativas, já que elas, as crianças, sabem e valorizam que a opinião que foi expressa influencia no desenvolvimento das aulas.
A atividade inicial, de aquecimento, é sempre escolhida por eles, nesta aula eles optaram por iniciarmos com o nunca três, essa atividade é uma variação do pega-pega tradicional e consiste em um fugitivo e um perseguidor. À distância, os demais jogadores, aos pares, de mãos dadas, ficaram dispersos pela quadra, ao sinal de início o fugitivo correrá e para evitar o perseguidor e tomará a mão de um dos colegas cujo parceiro se deslocará fugindo do perseguidor, por não ser permitido o grupo de três. Com o novo fugitivo, o jogo prosseguirá sem interrupção, desde que se o perseguidor atingir o fugitivo a ação será invertida.
O legal dessa atividade ser utilizada durante o processo de ensino do futsal, é que ela contribui com o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, sociais e físicos da criança. Isso acontece porque a criança deve ficar mais atenta sobre quem é o fugitivo e quem é o pegador durante a brincadeira, além de ter que ser ágil, rápida e resistente quando tiver sendo o fugitivo ou o pegador e, devido a regrinha da brincadeira dos pares estarem sempre de mãos dadas, passa a se relacionar com crianças que não são tão próximas,apesar de ser uma atitude simples, para algumas pessoas um simples aperto de mão ou qualquer contato físico, não é bem aceito e passa a ser um empecilho para a criança, por diversos motivos. Com atividades desse tipo, conseguimos minimizar esses agravos e criamos oportunidades de criação de novos vínculos de amizade independente do contexto social que ela esteja.
A partir do nunca três, fizemos uma outra variação do pega-pega, sugeri o pega corrente e as crianças toparam! A diferença para o nunca três é que no pega de corrente quando o pegador pega alguém, ele dá a mão pra ela e os dois saem correndo para pegar outros alunos. Quanto mais alunos são pegos, maior a corrente fica! Mas as mãos não podem se soltar, senão a brincadeira vai ter que começar de novo! Ganha a última criança que ficar fora da corrente por ultimo.Essa atividade foi definida para dar continuidade á aula por dois motivos, 1° – a partir do pega corrente foi dada continuidade com a brincadeira do pega-pega, 2° – essa variação contribui com a reflexão sobre o trabalho em equipe, criação de estratégias, solução de problemas, criação de novos problemas, agilidade, velocidade… enfim, são vários benefícios que se relacionam com o desenvolvimento maturacional das crianças e são importantes para o futsal.
Seguindo a ideia do pega-pega, acrescentei uma nova variação, que foi a principal atividade da aula, baseado no pega ajuda tradicional busquei trabalhar os fundamentos do passe e da locomoção de bola no futsal, e claro, usei uma bola de futsal (poderia acrescentar mais bolas e deixar a atividade mais dinâmica e complexa, mas me limitei a usar uma unica bola e guardar as demais para os próximos episódios, próximas aulas.). A atividade segue as mesmas regras do pega ajuda que tanto brincamos na rua, na escola, no sitio do vovô… a única diferença, ou melhor, a única novidade é que o pegador tem que pegar os fugitivos sem perder o controle da bola, ou seja, tem que conduzir a bola até pegar algum dos fugitivos, quando pegar alguém, eles passam a trocar passe entre sí, ai entra o acréscimo da única regrinha diferente do pega ajuda tradicional, ao invés de todos os pegadores poderem pegar os fugitivos a qualquer momento, só o pegador que tiver em posse da bola poderá pegar os fugitivos. Escolhi essa atividade porque ela se aproxima das situações do jogo de futsal de forma lúdica e sem competitividade, as crianças que são pegadores devem trocar passes entre sí, se movimentam o tempo inteiro para “marcar” os fugitivos, têm que manter o controle da bola e desenvolvem o trabalho em equipe a partir da criação de estratégias, troca de passes, movimentação e cooperação em prol do objetivo comum, que neste caso não é o gol, é pegar todos os colegas que estão participando da atividade.
Após essa sequência de atividades, com duração de aproximadamente 25 minutos, iniciamos uma atividade muito praticada nas ruas, praias e diversos outros espaços e com diferentes objetivos, o famoso “bobinho”. As crianças foram divididas aleatoriamente em três grupos e cada grupo formou um círculo, com um aluno no centro de cada círculo. A brincadeira é simples, enquanto os que formam o círculo tocam a bola entre si, os que estão no centro do círculo, que são chamados de “bobos”, tem que tentar interceptar os passes. Se conseguir, quem tocou a bola pela última vez será o novo bobinho. Essa brincadeira foi escolhida para que as crianças pudessem continuar se divertindo e aprendendo de uma forma menos desgastante fisicamente, assim elas puderam diminuir a intensidade, e recuperar as energias para finalmente fecharem a aula com chave de ouro, jogando futsal e fazendo gols.
Participaram da aula alunos dos 07 aos 16 anos de idade, de todas turmas de futsal do projeto “Esporte que transforma”, que são atendidos na sede do Centro de Referência Esportiva de Alagoas – O consolador, em Maceió.